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A Colonoscopia e o Baiacu



- A primeira vez a gente nunca esquece! - disse a médica ao entrar na sala de exame onde já me encontrava devidamente monitorada.


Logo em seguida entra a anestesista - a figura mais aguardada do rolê!


- Vamos te apagar, ok?

- Sacanagem me darem um "Boa Noite Cinderela na minha primeira vez!

- Relaxa, não vai lembrar de nada.

- E por que você acha que essa frase me tranquiliza? - pergunto para a anestesista meio sádica mas legal.

- Encosta bem as costas aqui neste bloco de espuma, (minha cabeça viaja esperando algo legal começar) conta de trás pra frente começando do dez.


Escuto vozes ao longe ininteligíveis e claro não acato a ordem da moça bonita (não confio nelas), sei que será minha derrota frente ao propofol.


Quando menos espero estão todas dentro da minha cabeça, sentadas em volta de uma fogueira contando estórias de outros pacientes.


Eu, sentada na maca, só rio*, mas não entendo o que elas falam, sinto um leve ardor no botico.


Quando chega minha hora de conversar, vem alguém e coloca a mão gelada no meu ombro e pergunta se estou bem.


- Bem, bem não estou, né? Perdi a festa, minha bundinha arde e estou com fome e sede.


Minha última reclamação é atendida ao voltar para o quarto, mais dormindo que acordada.


Mas sério, preferia continuar a dormir, passar trinta horas sem comer pra ganhar um lanchinho, um botão ardido e agora uma barriga que ronrona não valeu a pena.


Sinto que perdi alguma coisa além da dignidade.


Pergunto para a enfermeira o que podem ser os barulhos estranhos que vem da minha barriga.


- Parece um celular no vibracall, sabe?

- Ah, é que colocaram ar dentro de você!


- Oi? Tipo um baiacú?


E foi assim minha primeira vez.


Em tempo, exame realizado com sucesso no resultado.


Ansiosa pelo próximo para ver se consigo terminar com aquela conversa.

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