Na semana do Dia Internacional das Mulheres, uma amiga me convidou para participar de um evento com várias palestras e workshops sobre temas como violência doméstica, moda, procedimentos estéticos, saúde e tantos outros.
Decidi comparecer para prestigiar minha amiga, no entanto só pude chegar a tempo de uma explanação cujo tema era como se vestir de forma elegante, usando roupas adequadas para valorizar o estilo pessoal e adjacências...
A palestrante, a qual se dizia consultora de estilo, era jovem devidamente produzida em tons de nude, discorrendo, com fluidez, sobre como se apresentar bem para trabalho, eventos formais, informais, segundo clima, ocasião, idade... Ops idade? É idade ….
Já fui logo criando um ranço quando começou a falar sobre elegância - a qual no meu conceito não inclui roupa e estilo.
Então ali já tinha um aviso de que aquilo não era para mim, todavia resolvi permanecer até o final para ver onde o discurso iria chegar, atendendo ao chamado do meu instinto curioso.
O bla blá blá se seguiu e o fato é que no resumo da ópera, segundo ela, uma mulher como eu, que já passou dos 50, deveria usar peças discretas, em tons neutros - diga-se preto, marinho, branco e o tal do bege, acompanhadas de acessórios comedidos , esquecendo completamente dos estampadões, das mini saias, shorts e decotes.
No momento em que meu guarda roupa e de outras mulheres com mais de meio século de vida era censurado, estava sentada ao lado de uma mulher da minha mesma faixa etária e nos entreolharmos dos pés a cabeça, concluindo, sem nada nos dizer, que infringíamos a todas as regras para mantermos um mínimo de beleza que nos restava se é que nos restava, ou seja: ela toda trabalhada na estampa floral berrante, com unhas pink e eu com um vestido preto, sobreposto por um casaquinho verde limão siciliano efervescente e unhas vermelhas.
O local estava cheio e a algumas ouvintes animadas faziam perguntas sobre como se vestirem para entrevistas de trabalho, encontros românticos e outras maneiras de adequarem as respectivas indumentárias ao propósito de seguirem um estilo de maneira a obter melhor aceitação social e boa aparência.
Enquanto eu e minha vizinha de lugar escutávamos impropérios sobre nosso estilo e armários, os quais, então, pareciam absolutamente incompatíveis com os dados do nosso registro de nascimento, permanecemos sentadas, talvez pela mera preguiça de levantarmos para ir embora, o que na altura do campeonato em que nos encontramos é muito comum…
Impossível levar a sério aquele manual de instruções que ensinava, em 20 lições , sobre como vestir a vida , afinal já sabíamos que os modelos são todos falhos e o jeito de viver e de vestir é individualíssimo, cada um que encontre o seu experimentando, vestindo e simplesmente vivendo.
De repente, uma senhorinha idosa que estava sentada na primeira fila, com vestido de renda, sapato e bolsa todos rosa bebê, levanta- se, chama a atenção de todos ao pedir para falar o seguinte: “ queria pedir desculpas, mas tenho que ir embora, porque hoje é dia de soprar a canela e está quase na minha hora”.
O pedido de desculpas soprava muitas coisas, menos a canela e fez com que eu a vizinha de lugar, Florida (como ela mesma se apelidou ), caíssemos na risada, com o sarcasmo de quem paga as próprias contas já com muitos tributos embutidos, com a firmeza de quem não tem certeza de nada nem sobre o número que usa, com a liberdade de quem se insurge contra as ditaduras da beleza, dos beges e dos anos para criar o próprio estilo, vestir que der na telha, dando de ombros para a opinião alheia.
Claudia Lacerda
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