Outro dia sozinha no meio do lago Oskawana, em NY na minha paddle board (prancha stand up), eu me peguei pensando alto: “Como eu gosto de um grupo”! Aí, no mesmo segundo eu mesma respondi: “Que isso, menina? Quem é você?” Foi então que eu comecei a decifrar o que eu tinha dito.
Estou aqui escrevendo e rindo até, mas a verdade é que eu sempre me virei sozinha, corri atrás das coisas que eu queria, precisei correr, na verdade. E com o passar do tempo viajei bastante sozinha, e então me mudei para os EUA - sozinha, ou seja, sem trabalho, sem família ou grupo de amigos aqui!
Mas eu gosto mesmo é de gente, eu gosto de socializar, eu gosto de conhecer pessoas novas, brasileiros e de outras nacionalidades, de diferentes idades, de várias áreas profissionais, de diversas classes econômicas, entre outros inúmeros tipos de pessoas.
Há um certo tempo, uma amiga muito querida me disse: “Quando eu penso na Rose, eu penso nela sozinha, não num grupo”. Eu lembro que fiquei me indagando se o comentário tinha sido bom ou ruim, e depois passou!
Mas agora estava pensando novamente na afirmação dela. Será ela quis dizer que eu não sigo apenas tendências, modismos e afins? Só sei que eu sigo o que eu quero, o que eu gosto, o que almejo, e tento seguir o que me faz bem. Mas, eu adoro estar num grupo, quero dizer, gosto de viver uma vida rodeada de pessoas.
Ninguém é ninguém, ou alguém sozinho!
Vocês conhecem aquele joguinho de macaquinhos onde um bracinho do macaco se engancha no bracinho do outro, e assim por diante. Eu acho que somos todos assim, um ligado ao outro. Somos conectados e temos que fazer malabarismos para não nos desunirmos. E sempre alimentarmos os laços que valham a pena!
Eu sempre naveguei por meio de muitos grupos, de amizades distintas, porque gosto de estudar, aprender, trabalhar, fazer esportes, brincar e me divertir! You name it! (O que você disser! rsrsrs)
Sou mãe e sempre tive grupos de mães da escola, mães da ginástica das meninas, mães do tênis, e vários outros com quem eu interagia e tentava encontrar algo a mais em comum além do fato de ser a mãe delas. E sigo fazendo isso, principalmente numa cidade como Manhattan onde as pessoas vem e vão num piscar de olhos!
Mas eu também passei sim uma fase tentando entender a vida nos EUA, já bem adulta, casada, sem uma carreira profissional solidificada, e em seguida mãe, tudo isso muito novo e rápido, o que pode, e mexe sim com nossa identidade. E para não se decepcionar ou ter as expectativas lá em cima, eu passei um tempo mais introspectiva e seletiva até me fortalecer e me relacionar com pessoas que agregassem!
Moral da história, às vezes, a gente acredita um pouco mais naquilo que uma amiga pode nos dizer, e nesse caso, eu precisei analisar um pouco para achar a minha verdade, sabe? Porque um comentário, elogio ou crítica vem com a perspectiva do outro e não necessariamente como a gente se vê ou se sente! Afinal, eu não consigo viver sem pessoas.
O comentário da minha amiga e essa minha frase “como eu gosto de um grupo” me fizeram analisar o que eu sinto sobre pertencer ou não a um grupo.
Com o passar do tempo eu me certifiquei de que pertencer, se unir por afinidades ou interesses semelhantes, ouvir, observar, compartilhar e saber respeitar a perspectiva do outro é muito necessário para se viver em harmonia em grupo, ou seja, na sociedade!
Hoje em dia, a coisa é um pouco diferente, temos milhões de grupos no WhatsApp, e cada vez que sou convidada para participar de um, eu penso por uns dias, e aí de repente, mais do que de repente, eu vou lá e entro no grupo de coração aberto e força no meu ser para saber discernir o que me interessa e o que não me diz respeito, respeitando as regras até informais e não verbais de cada grupo. A questão é tomar cuidado para não se sobrecarregar com grupos, com milhões de informações que podem nos desorientar ao invés de nos unir e trazer algum benefício. O isolamento nos adoece, mas a sobrecarga também.
Eu particularmente gosto de grupos de pessoas que conheço pessoalmente, e quando não conheço faço questão de ir a eventos que os grupos criam para que eu possa sentir a vibe das pessoas, e é nesse momento que a conexão acontece com uma ou outra pessoa, e a partir daí uma amizade.
Apesar de mais de 25 anos aqui, eu mantenho as minhas amizades no Brasil, mesmo que distanciadas, com pessoas marcantes desde a amiga mais querida do primário, várias do meu colegial, a mais próxima e divertida da faculdade até a amiga mais profissional da pós-graduação. E, apesar de serem diferentes as amizades que se formam já bem adulta, e em outro país, eu acho fundamental para a minha existência.
Ah, eu já saí de grupos sim. Saí de um grupo do WhatsApp com pessoas conhecidas, mas que nunca encontro porque estamos em países diferentes, e porque um comentário político no meio de uma eleição mostrou que seria desafiador e entristecedor ficar ali naquele grupo pequeno.
Infelizmente, hoje em dia um comentário tão assertivo pode distanciar as pessoas, e achei melhor não ouvir, não ler nesse caso. Há muitos anos eu saí de um outro grupo na mídia social, depois de testemunhar que as mulheres, ali brigavam, como se uma estivesse sempre contra a outra. Eu ficava chocada, e percebi que não fazia parte daquele grupo.
Eu comparo um grupo às sociedades das quais fazíamos parte antigamente, ou como era na minha época de criança e jovem adulta. O primeiro grupo então foi a família, depois a igreja, a escola, o esporte, no meu caso o grupo da natação e da ginástica olímpica, o clube, o grupo da aula de inglês, depois o grupo da faculdade, mais tarde o dia a dia em grupo no trabalho, e assim por diante, ou seja, vivemos em grupos! Não tenho esses grupos, digamos assim tantos espaços físicos aqui em NYC, mas eu busco e faço parte de grupos incríveis que me mantém informada e inspirada!
Eu consigo e preciso manter o meu jeito de ser e pensar, muitas vezes, único, porque o pensar é individual, mas como seres humanos sugiro almejarmos chegar a um consenso e aprendermos um com os outros em grupo.
Eu vivo em grupos, digamos, em sociedade sim!
Dito tudo isso, eu ressalto que eu também gosto de ficar sozinha, preciso do meu momento quieto, de reflexão para organizar e pensar os meus pensamentos!
Rindo aqui, mas em casa, já à noite eu digo: That’s it for today. I love everybody, I am not angry with anybody, but I am going to my room! Rsrsrs (Por hoje é só! Eu amo todo mundo, não estou brava com ninguém, mas estou indo para o meu quarto!)
Por fim, nós mulheres precisamos dos grupos das amigas, do momento de descontração e diversão que só nos fortalece!
Vamos escolhendo atentamente os grupos de pessoas com as quais queremos interagir. Conectar-se trazendo positividade e aprendizado, e uma certa leveza para a vida, porque desafios todas e todos já temos e muitos.
Até a próxima!
Rose Sperling
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