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O que quer uma mãe?




Entre as dezenas de postagens em homenagem ao dia das mães no Instagram, uma delas perguntava: O que quer uma mãe?


Quem é mãe nessa hora já fez a lista mental de desejos, que podem ser mais ou menos materialistas, mais ou menos abnegados ou autocentrados.


Provavelmente, eu poderia apostar, a maioria dos desejos têm a ver com o filho e seu bem-estar, sua saúde, seu caráter, seu futuro, sua vida.


Essa pergunta é, na verdade, uma variação do famoso questionamento – famoso em termos, famoso nos meios psicanalíticos – que Freud formulou no início do século passado: O que quer uma mulher?


Ao propor este enigma, Freud estaria posicionando o desejo como objeto central da psicanálise.


Freud entendeu que os sintomas histéricos que acometiam principalmente mulheres das classes média e alta de Viena, capital do Império Austro-Húngaro, estavam enraizados na impossibilidade de realização e na consequente não satisfação de desejos proibidos.


Freud era um homem do seu tempo, fruto da modernidade. Fosse um homem medieval e seu questionamento sobre o desejo seria tão descabido quanto o de Copérnico ao retirar a Terra do centro do universo.


Durante a Idade Média, as qualidades humanas que estavam na base de todo ser virtuoso negavam o desejo. As virtudes eram, melhor dizendo, negativas, implicavam em um não-agir, em um não-desejar. Por exemplo: a castidade, a humildade, a paciência.


A sociedade medieval entendia o desejo como algo perigoso, que não poderia, assim, ter sido criado por Deus. A alternativa que sobrava, portanto, era uma só: desejar era coisa do diabo.


É somente na passagem para a Idade Moderna, com o sistema capitalista dando seus primeiros passos, que o ser humano passa a se entender e a se aceitar como ser desejante. Claro, o capitalismo não existira se não houvesse o desejo, alimento de toda a lógica do consumo.


Homens e mulheres passam a ter no desejo uma razão legítima para a ação. Mas diferenças também se acentuam nessa engrenagem capitalista/consumista/desejante.


Mulheres têm direitos, mas, na prática, nem tanto. Mulheres podem desejar, mas não muito!


E falando em desejo, voltando ao início dessa brevíssima conversa e respondendo ao Instagram: o que quer uma mãe?


Uma mãe quer ser pai. Não, melhor. Ser vista como um pai é visto. Gozar dos mesmos privilégios, pelo menos: tempo para si, seu trabalho garantido, não ser vista como uma “liability” na empresa (diriam os faria limers).


Numa nota mais positiva, uma mãe quer receber elogios efusivos quando troca a fralda da criança e a leva na escola, no parquinho, ao pediatra.


E, se e quando aparecer na reunião de pais e mestres, toda mãe não espera menos do que ser ovacionada de pé. Por ser uma super mãe.


Direitos iguais, afinal.


Bia Carvalho


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