Números tem seus mistérios e parecem brincar o tempo todo com a cabeça de quem se atreve a nota-los. Uma coincidência aqui, outra ali, uma repetição acolá e até os mais céticos acabam duvidando de seu pragmatismo e ficam com uma pulga atrás da orelha. Eu, que de cética não tenho nada, observo extasiada a forma com que eles se apresentam em minha vida. Mesmo sem entender sobre numerologia brinco com seus significados de uma forma livre e descontraída como a criança que, quando pequena, observava as placas dos carros na rua. Minha torcida era para que, em alguma placa perdida no meio do trânsito, houvesse algum que juntasse meu número da chamada da escola com o daquele menino que fazia meu coração bater um pouco mais forte todos os dias pela manhã.
Quando comprei meu primeiro apartamento, no número 314 da Rua Barão do Triunfo, tanto o meu apartamento, 31, quanto o número de telefone (fixo, na época) – repetiam enigmaticamente o mesmo padrão. Um sinal de boa sorte, pensei eu na época antes de fechar o negócio. O número 31, treze ao contrário! Foi no dia 13 de julho de 2022, o dia que voltei a trabalhar em publicidade, depois de mais de 10 anos fora do mercado.
Foi no dia 13 de junho de 2023 o dia em que voltei a abrir meu computador, criar uma nova pasta e começar a escrever as primeiras linhas de uma possível nova coluna no Eu Não Anoto Nada, mais de 5 anos depois de ficar sem colocar uma única frase no papel.
Os sentimentos? Nervoso, excitação e muito medo. Porque escrever sempre me aterrorizou. Eu nunca me acostumei com o desconforto de escrever. Com a busca constante de temas e idéias; com os rompantes de inspiração que aparecem nas horas mais inconvenientes e me fazem sair alucinada atrás de caneta e papel às 4 horas da manhã ou em plena aula de Pilates; com a dificuldade de encontrar as palavras certas para expressar sentimentos precisos que, de tão específicos, parecem exigir uma certa exclusividade que as palavras existentes não dão conta de explicar.
E não é que nesse mesmo dia 13, tenho a sorte de ir até a cidade – maneira que me refiro a cidade de NY desde que vim morar há duas e meia ao norte de lá – numa cidade com pouco mais de 2 mil habitantes, cercada de montanhas e neve por pelo menos 6 meses por ano. Comprei os ingressos para a palestra como presente de aniversário de 13 anos da minha filha. Olha aí o treze de novo, minha gente! O palestrante? Lin Manuel Miranda, criador de Hamilton, Moana e outras beldades.
E talvez por coincidência – talvez não – ele falou o tempo todo sobre inspiração. Sobre o medo de começar e recomeçar todos os dias diante do papel vazio. O medo de não ter a disciplina de tentar até conseguir. O pavor de não chegar lá e o outro maior ainda de se ficar onde se está. O constante questionamento sobre o que o outro vai pensar. Sobre a importância do fazer independente do quê. Da coragem de não saber e mesmo assim, continuar.
E ele falou comigo. Ele acendeu uma chama dentro de mim. E ele me deu coragem para escrever as palavras que agora divido com vocês aqui. Ele me desafiou a ter a coragem de enfrentar o papel vazio e branco a me flertar, com seu silêncio exigente e ao mesmo tempo acolhedor. O papel aceita tudo não é mesmo? Até mesmo meus devaneios sobre os presentes que os dias 13 têm me dado...
Sou agradecida por todos esses dias! e por todas as outras combinações de números que me fizeram ver no corriqueiro, um significado especial. Sou agradecida a essas pessoas iluminadas que, como o Lin, me ajudaram a achar um pedaço que eu tinha perdido dentro de mim.
Ultimamente, porém, venho pensando muito o que fazer com todos os demais dias do calendário, onde nenhum número, nenhuma palestra, nenhum evento ou acontecimento extraordinário surge para me inspirar. Aqueles dias ordinários, cheios de rotina e “mais do mesmo”. Ou até mesmo belos, de céu azul e sol quente – meus preferidos – que mesmo com seu esplendor parecem não conseguir iluminar. E fico pensando se a vida seria uma conjunção de eventos significativos cercados por um bando de outros ordinários e sem importância ou se seria exatamente o contrário?
Talvez seja uma pergunta boba nos tempos onde o “aqui e agora” é o modelo de felicidade vigente. A vida está no agora, no presente, nesse exato minuto. Não é necessário procurar, simplesmente estar. Talvez os números tenham uma resposta. Talvez não. Talvez ela esteja dentro de mim, no meu olhar que pode escolher ver os números como marcadores dos dias e das horas ou como sinais de boa sorte e inspiração.
Termino de escrever essas palavras e, repentinamente, me dou conta que é dia 04/09. Nove mais quatro? Treze! Bingo. Lá vem esse número de novo a me chamar a atenção. Dia comum ou especial? Coincidência ou sinal? Casualidade ou ilusão? A mágica existe lá fora ou se faz realidade dentro de mim? Sem resposta, decido colocar meu ponto final, fechar o computador e fazer o jantar. As crianças devem estar com fome. Ela sempre aparece por volta das sete da tarde, sejam nos dias especiais ou não. Tá aí uma coisa que eu tenho certeza....
Isabel Coutinho
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