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Quando é difícil desligar



Essa semana tô vivendo algo muito curioso.


Estou às vésperas de uma viagem de férias incrível com a minha família e com a maior dificuldade de me desligar do meu trabalho. De colocar um ponto final e me declarar, oficialmente, de férias!


Minha relação com minha carreira mudou radicalmente depois que me tornei mãe e, depois

disso, passei por mais fases do que fui capaz de registrar.


De publicitária workaholic, vivi o turbilhão de angústias e incertezas ao voltar à ativa depois da licença maternidade, larguei tudo para ser mãe tempo integral, voltei a estudar, busquei o caminho de autônoma desejando flexibilidade de horários, realizei o sonho de escrever um livro e quando tudo parecia estar se ajeitando, mudei de país e tive que começar tudo de novo.


Fui voluntária, trabalhei em ONG, estudei mais um pouco, me tornei terapeuta holística, tentei montar meu negócio, fracassei, pandemia bateu e com ela a insana rotina do administrar uma vida inteira acontecendo dentro de casa.


E quando a calmaria começou a aparecer no horizonte, uma outra mudança de cidade apareceu. Busquei trabalho em qualquer lugar. Dessa vez, só para não enlouquecer e conseguir lidar com o frio e com a calmaria de uma cidade que tem menos de 2 mil habitantes.


E, finalmente, um encontro breve e muitos desencontros depois, caiu no meu colo uma nova oportunidade.


E ela segue comigo firme e forte até hoje. Há exatos 365 dias.


Sim, há um ano, a vida me presenteou com a oportunidade de finalmente me reencontrar com um trabalho e sentir aquele misto de orgulho próprio, frio na barriga, satisfação, medo (muito medo), superação e aquela alegria do dinheirinho suado caindo na conta do banco no final do mês. Ahhhhhhhhh me reencontrei.


Lembrei de mim, de quem um dia fui. Vi que posso, que consigo, que ainda sou capaz de aprender. Acordei habilidades adormecidas. Descobri umas tantas outras novas e inesperadas.


E, depois de muito tempo à deriva, senti novamente os pés firmes no chão.


Só que agora chegou a hora de descansar, desterrar, voar um pouco, explorar o novo, andar errante, viajar.


Eu sempre adorei viajar! Mas não tô conseguindo largar o osso, levantar a âncora, deixar-me ir. Sinto que é hora, sinto que é bom, sinto que é necessário.


São só algumas semanas. Férias, lembra? Você costumava a gostar.


Mas estranhamente sinto esse apego por continuar nesse lugar que renasceu dentro de mim e que temo não mais encontrar. Ficou muito tempo perdido. Muito tempo errante. Tenho medo de ir e não achar o caminho de volta. De novo, não, por favor!


Tá tão bom aqui. Posso ficar mais um pouquinho?


Pois é... assim é a vida não é mesmo? Essa coisa que nunca nos deixa estacionar. Essa é sua essência. Movimento sempre. Não se acostumar. Dar e tirar. Abraçar e largar. Onda que vai e vem, sobe e desce, pulsa sem cessar.


Sim, vida, opto por você! Sempre. E, mais uma vez, me desafio a largar o que por um ano

segurei tão forte, tão pertinho, com as duas mãos e todo o coração... Tento lembrar que

descansar é também verbo, ação, movimento. Assim como explorar, viajar, aprender, conhecer e, claro, trabalhar.


Querido trabalho, vou ali e já volto, tá bem? Me espera, por favor. Ainda não tô preparada para essa ação de despegar.


Isabel Coutinho

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