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Cada Adeus de Todos os Dias


Não acontece na vida diária. Mas tem se repetido em todas as viagens.

Alguns dias no mesmo hotel, cumprimentando os recepcionistas, falando com o pessoal do café da manhã. Na hora de ir embora, já me apeguei. Fico pensando que nunca mais vou voltar a vê-los.

Viajei sozinha algumas vezes recentemente, fui almoçar e jantar sozinha. Lembro de várias das pessoas que me atenderam.

A menina coreana no mercado gourmet de Madrid, a maneira como me apresentou os pratos, a simpatia. O francês do restaurante em Lyon, marketeiro de primeira, não deixava escapar ninguém à porta, depois foi simpático, falamos de algumas coisas, me sugeriu os pratos, lembro nitidamente dele.


Também me lembro da senhora da creperie, que fazia os crepes, atendia as mesas, fechava as contas, tudo sozinha...Troquei algumas palavras com ela, deixei gorjeta boa, disse que ela mereceria ainda mais. Ficou o sorriso dela na memória.


Depois, ainda mais memorável, foi a senhora do Mercado Paul Bocuse, estava sozinha e tive que esperar, mas não quis apressá-la, falei para ficar tranquila. Me serviu o prato, o vinho, falamos um pouco, depois voltou com a garrafa por terminar e me serviu mais uma taça de cortesia. Lembro de tudo que falamos, experiências de vida, a vida dela lá e a minha cá, futuro dos filhos, tudo no meu francês que já foi excelente e hoje precisa de uns empurrõezinhos.

No bar do hotel em Barcelona tinha um senhor simpático, me serviu uma taça de vinho já fora do horário, não apagou a iluminação do terraço enquanto não terminei.


No restaurante grego o rapaz que também fazia tudo ficou na minha memória. Não penso nessas coisas quando já passaram, quando estou lá, vivendo esses momentos já fico com pena porque eles já estão a esvair-se.

Com o tempo as memórias vão se diluindo mas se fizer algum esforço posso lembrar de tantas e tantas pessoas de todos os lugares onde estive nos últimos anos. Sinto saudades delas porque elas também fazem parte de memórias felizes de lugares que eu gostei de visitar, ou revisitar.

Aqui em Lisboa, claro que isso não acontece, mesmo que eu nunca mais vá ver a pessoa, fica sempre a perspectiva de poder, se eu quiser ou mesmo se acontecer ao acaso.

Tenho tido uma tendência a repetir lugares e mesmo ficar nos mesmos hotéis. Tenho gostado de criar essas memórias afetivas, de imaginar as pessoas nos lugares onde as conheci mesmo depois de ter partido.


Quantas vezes quando volto pra casa, nos primeiros dias durante o café da manhã fico imaginando quem vai estar sentado na mesa que era minha, e no rapaz simpático que me servia todos os dias.

Aí me perguntam se já estou com saudades das férias e quase respondo que estou com saudades da rotina que eu tinha nas férias, das pessoas que ficaram para trás.


Desconhecidos que chegaram e partiram. Mas quem chegou e partiu fui eu.

Maria Tereza De Iuliis


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