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Eu não ando só


Tenho pensado sobre limites. Essa borda que fazemos com o mundo que separa as suas demandas dos nossos desejos. Ou melhor, a borda que fazemos entre nós e aquilo que o outro espera ou quer de nós.


A palavra limite é assim, diria, bastante delimitada em seu sentido.


Não é daquelas palavras que deixam margem a interpretações.


Quando eu falo ‘limite’, você entende exatamente o que eu estou falando. Ao menos semanticamente.


Mas nada mais difícil de apreender do que a existência real dos nossos limites, dos limites dos outros.


Pode-se passar uma vida sendo permissivo à violação dos próprios limites. É possível passar a vida tentando construir barreiras contra investidas alheias que teimam em se lançar contra nossos sinais luminosos de ‘não ultrapasse’.


Numa cultura como a nossa, latina, em que as coisas tendem a ser ditas por etapas, se possível etapas circulares, melhor ainda se forem tangenciais, por metáforas e nas entrelinhas, colocar limites beira a falta de educação.


Quando se trata de pessoas que estão em hierarquias diferentes, estamos então diante de uma heresia.


Você já se desculpou por ter impedido um desses avanços contra você, porque seu limite fez você se sentir culpado? Uma ou um milhão de vezes?


Se você for mulher, provavelmente a resposta seja um número impronunciável.


Saber colocar limites implica em primeiro lugar saber se diferenciar do outro. Entender que quem sou e o que quero não é um espelho de quem o outro é ou quer.


Crescer e amadurecer deveria ser um motor natural para nos colocar na rota da diferenciação e da auto delimitação. Mas não queremos crescer. Estamos cada vez mais infantilizados e codependentes.


Os caminhos à nossa frente já foram sonhados e idealizados antes mesmo de nós.


E isso me traz ao segundo ponto, de que colocar limites também implica em ter coragem. É preciso ter uma dose de coragem para frustrar expectativas de pessoas que amamos ou a quem julgamos dever obediência.


Delimitar um espaço próprio pode significar reclamar autonomia, soltar a mão do conhecido e, talvez, correr o risco de caminhar sozinho.


Mas em boa companhia.


Bia Carvalho

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