No laboratório, aguardava, para fazer um exame e ao meu lado, Letícia , uma menina de 5 anos que, com os braços cruzados e a cara emburrada, questionava a mãe.
Insistia em algo que queria fazer perguntando o porquê da negativa e não se conformava com a explicação aliás, como é comum às crianças.
A mãe, incisivamente repetia NÃO e acho que a menina percebendo o fracasso do seu propósito desistiu e voltou para mim os olhos de jabuticaba brilhantes pelas lágrimas!
Enfeitiçada por aquele olhar, puxei conversa com a garotinha que, sem quaisquer cerimonias, foi logo me perguntando: "-Você vai almoçar em sua casa hoje?",
Respondi um "sim" curioso pelo alcance da pergunta até que ela na lata disse: " - Você pode convidar a Mel para almoçar em sua casa?"
Ainda mais curiosa pergunto quem é Mel e neste momento a mãe de Letícia que a adverte: "- O que é isso filha?"
Letícia me explica que Mel era sua cadelinha, impedida pela mãe de acompanhá-la numa cerimônia de casamento onde iria com a família na hora do almoço.
Estava então, sem entender porque um cachorro não pode ir para um casamento e preocupada por Mel ter que ficar sozinha sem ninguém para conversar, explicando-me que a cadelinha era “uma pessoa muito legal , grande amiga sua e que ficava com pena de deixá-la sozinha porque Mel ficava triste “.
Claro que sorri muito e hipotequei minha solidariedade à menina, porém tentei lhe convencer de que Mel ficaria melhor no ambiente onde vivia, por estar acostumada, do que em minha casa, afinal nem me conhecia.
Letícia entendeu e me disse que o jeito era conversar muito com Mel antes de ir e depois que voltasse da festa para ela não ficar triste.
A menina se referia a Mel, sua cadela, como uma pessoa, sua melhor amiga, cuja solidão aplacaria com uma boa conversa porque mesmo na sua inocência já havia entendido que os amigos, humanos ou não, são os presentes que escolhemos para tornar as nossas vidas mais alegres e as palavras, bem ditas e benditas, funcionam como afagos.
Claudia Lacerda
Comments