Domingo de Carnaval estava animadíssima por ter recebido convite para um daqueles camarotes ultra badalados, com estrela globais e tudo o mais incluído.
O anfitrião sugeria que se enfeitasse a cabeça com algo que remetesse às folias de Momo e, assim, providenciei um adereço para mim , um cocar para meu marido, ambos feitos com penas sintéticas, como se tivéssemos saído da floresta.
Ainda pela manhã, olhei para o enfeite do cabelo e achei que, sozinho, não seria capaz de traduzir meu espírito de Carnaval o qual pedia glamour, irreverência, fantasias lúdicas e muito brilho.
Queria me sentir assim a mescla de pássaro amazônico com guirlanda de natal, toda construída na purpurina, no entanto remexendo a minhas coisas constatei que não possuía sequer um daqueles cílios que a Izabelita dos Patins usa, nem uma lantejoula para colar na testa ou seja era dona de uma bolsa de maquiagem capaz não apenas de ofuscar indumentárias carnavalescas como até de rebaixar qualquer escola de samba.
Perguntei a meu marido: - Onde será que encontro uma sombra com glitter para comprar ?
Ele sequer sabia o que era sombra com glitter, porém depois que expliquei do que se tratava respondeu: - Não tem nada aberto hoje. É Carnaval em Salvador, esqueceu ?
Preciso de alguma cintilância no Carnaval nem que seja um pouquinho de purpurina, insisti.
- Meu amor, para que gastar esse dinheiro? Você vai chegar lá, vai se acabar de dançar, transpirar e derreter tudo na mesma hora.
Não derrete porque a indústria cosmética criou a maquiagem com glitter exatamente pensando que no Brasil faz calor no Carnaval, expliquei novamente e comentei com Meus Botões tadinho não entende nada de maquiagem...
Saímos atrás da bendita sombra e de fato apenas havia um supermercado aberto, sem qualquer vestígio de ter vendido tal item algum dia .
Meu marido, então lembrou de um comércio ambulante ininterrupto nas imediações da Estação Rodoviária, onde se vende toda sorte de quinquilharias .
Ao chegar me senti na Sapucaí ante a diversidade de alegorias e devo reconhecer que o camelô que me vendeu, além de ter precinhos camaradas, foi ainda gentilíssimo, garantindo a todo instante: - Madame fique tranquila é tudo 100% a prova d´água .
Modéstia á parte, a make ficou um luxo!
Já no carro perguntei a meu marido: - Então, como estou?
Ele me olhou, meio sem graça, dizendo: - Só acho que você exagerou na maquiagem do pescoço e do colo, porque está um vermelho muito forte.
Fiquei espantada afinal não havia passado nada nestes locais e o susto foi tanto que um cílio postiço se descolou e saltou no meu braço fazendo com que abaixasse rapidamente o espelho para me certificar que a vermelhidão do pescoço e o inchaço dos olhos eram fruto de uma crise alérgica sem precedentes que me empolou dos pés a cabeça .
Corri desesperada para o chuveiro, travei uma luta árdua com purpurinas capazes de enfrentar o diluvio de Noé, sem deixarem de cintilar, porque, de fato, eram por volta de uns 100% a prova d´agua ...
Enfim, passado o apuro, cheguei ao Camarote à base de antialérgico, sem enfeites, de cara lavada, até porque atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu.
Considerando que o bom conselho até do tolo se ouve : Se você não for patrocinada pela Sephora no Carnaval , em caso de glitter, fique longe da Rodoviária.
Claudia Lacerda
Commentaires