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O tal do eu, tu, elas...




Eu, mulher, e meus hormônios, que não são só meus, são de todas nós. O tal do eu, tu, elas...


Desde que nasci, a expectativa era de quando eu me tornaria "mocinha" e, na minha época, quando a primeira menstruação chegava, a família ficava sabendo e era uma fofoca só. Alguns davam presentes e outros tinham a tarefa de espalhar para todos os conhecidos que eu não era mais criança.


Que vergonha!


A cada mês, uma tortura. O humor oscilava, o absorvente vazava, a vontade de ser criança ainda estava latente, mas aquela enxurrada todos os meses era inevitável e me fazia lembrar que meu papel na sociedade era outro, o de mulher.


Havia dias em que o humor parecia mais uma montanha-russa do que um lago sereno, mesmo assim eu tinha que ir à escola, com cólicas ou não, sendo ou não compreendida, eu escutava da minha mãe que menstruação e TPM não eram doenças e sim frescura.


Aos poucos, a pílula anticoncepcional era incluída na minha vida e, pelo menos, eu sabia quando o tal "incômodo" viria. Bendita juventude.


Com o tempo a preocupação passou a ser a de não esquecer de tomar a pílula e rezar para que todos os meses ela desse as caras.


Chegou a hora de engravidar. Será que anos de pílula me impedirão de ser mãe? Será que meu filho será afetado por anos a fio da tal pílula anticoncepcional?


E tantas outras dúvidas que hoje tenho certeza que eram culpa dos benditos hormônios.


Nasce o primeiro filho, mãe inexperiente e cheia de expectativas. Todos falavam que meu amor por ele seria incondicional. Pois bem, ele chorava noite e dia, e eu também. O que diabos estava acontecendo?


E aquele amor que eu ia sentir, estava mais para exaustão e logicamente culpa por pensar assim.


Nasce uma mãe, nasce uma culpa.


Hormônios novamente. Uma montanha-russa de prolactina, progesterona, ocitocina e por aí vai.


Uma tristeza sem fim. Será que não amo meu filho? Será que sou uma boa mãe? Será que será que será...


A tal depressão pós-parto, que para alguns era frescura, afinal, ter um filho saudável e uma rede de apoio era suficiente para ser feliz. Só que não era bem assim. Algo me dizia que eu não estava bem. Não comia, chorava a cada mamada, o sono já não existia e olhar para o vazio era frequente.


Depressão pós-parto, novamente hormonal. Sim, ela existe e na época me trouxe uma culpa imensa, mas fui prontamente diagnosticada e tudo se normalizou.


Por alguns anos, os hormônios me deram uma trégua. Não que a menstruação mensal não estivesse ali para me lembrar que eu era mulher e tinha uma bomba hormonal para carregar.


Os anos passam e, como já contei no texto anterior, ondas de calor começam a aparecer e achei que estivesse verdadeiramente doente, já que não me aquecia com nada.


Exames, médicos, dicas da melhor amiga e conselhos por todos os lados. A menopausa havia chegado. Ou seria o tal climatério, ou então a perimenopausa? Quantos nomes uma mulher carrega durante a vida, hein?


E quem é esse novo sujeito na minha vida? São os tais hormônios em revolução mais uma vez.


Um nevoeiro mental tomou conta de mim e já não sabia se era COVID ou demência mesmo. O frio aumentando e agora, intercalando com um calor que mais parecia o inferno na terra.


A escova de cabelo recém-feita acabava em uma simples onda de calor. Vamos viver de cabelo preso.


À noite, passei a fazer companhia para as corujas, afinal, sono que é bom, nada. E eu, que não gosto de corujas, talvez também seja culpa de mais algum hormônio que não identifiquei.


E sigo a cada dia com uma novidade: falta de vitamina B12, alteração no apetite. Ou seja, eu, que não gostava de doces, hoje tenho ataques de formigas.


Isso também faz parte de ser mulher, mas ninguém conta, só se fala no glamour.


Eu amo ser mulher, de uma forma ou de outra, amo meus hormônios, pois sem eles, talvez eu fosse racional como muitos homens. E sendo de Áries, ascendente em Sagitário, não dava muito para não ser intensa.


A mulher e seus hormônios precisam de todo o apoio do mundo. São seres únicos em constante risco de ebulição.


Fernanda Papa de Campos

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