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PLANO DE VOO



Saindo de para o trabalho, na véspera do dia das crianças, encontro, no elevador, com duas delas, devidamente paramentadas para a festa da escola.

A menina, mais velha, com o rosto pintado, olha-se no espelho e diz ao pai que estava se sentindo ridícula, o que fatalmente encontrava eco na adolescência quando tudo o que mais queremos na vida é renegar quaisquer vestígios de criança que possa haver em nós.


O garoto, com uns 5 anos mais ou menos, estava vestido de um super-herói desses mais novos e carregava um boneco tipo robô com quem conversava.

De repente o menino comenta que tinha muita pena de seu amigo, porque ele era muito forte, ganhava todas as batalhas mas não sabia voar. E exclama: - Ele precisa de ajuda!


Respondo aconselhando ao menino que ensine ao amigo, afinal tinha certeza de que ele sabia como fazer para voar.

- Claro que eu sei voar! - o menino afirma enfaticamente. - É só bater as asas e ir.


Parto, fazendo no caminho para a minha rotina, um panorâmico sobre mim mesma, amarrada ao cinto de segurança, preocupada com o tráfico aéreo, as bagagens, o pouso, decolagem, serviço de bordo.


Daí me dou conta que o que nos impede de voar é exatamente o tal do plano de voo, o qual nos retira o prazer de bater das asas, principalmente as da imaginação e ir sem destino pela aventura de viver.


Enquanto isso, o menino do elevador se lança aos voos audaciosos e rasantes, ultrapassa todas as fronteiras, desbrava desconhecidos, sem qualquer plano, apenas guiado por um espirito livre, curioso e entusiasmado que sabe, como ninguém, bater as asas e, principalmente, ir.


Então às voltas com questões de alta indagação em um mundo cada dia mais chato, resolvi que vou é tirar minhas asas do armário, limpar a poeira, colocá-las o sol e me levar para voar, qualquer hora dessas, porque “Mais vale ser criança que querer compreender o mundo” - Fernando Pessoa.


Claudia Lacerda

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