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Sr. Coisinho



No Shopping, sentei para tomar um café quando um homem, com o pai idoso, entrou na cafeteria e pediu dois expressos.

O pai, diz a atendente: - Pra mim uma cerveja daquelas pequenas e uma coxinha!

O filho exclama: - Meu pai! O médico não quer que o senhor beba nem coma fritura, porque é prejudicial à sua saúde!

- Jeferson! Somente uma garrafinha! - diz Sr. Coisinho.

- O senhor não pode, porque o médico proibiu, meu pai!

- Quer dizer então Jeferson que vivi 80 anos para no fim da minha vida ser governado por um médico?

Jeferson argumenta didaticamente: - Meu pai, então coma só a coxinha porque a cerveja misturada com seus remédios pode dar algum efeito.

- Jeferson, você já viu alguém beber para não sentir efeito? Por acaso sou menino, para você me dar ordem?

Jeferson silenciou com o olhar desolado.


Pobre Jeferson …

O pedido de senhor Coisinho chegou e ele degustou como se não houvesse amanhã.


E será que havia realmente amanhã?

Como advogada que sou, comentei com Meus Botões que ao senhor Coisinho é dado o direito de fazer da sua vida, da sua aposentadoria, o que bem entender! Afinal quem é o médico na fila do pão para decidir sobre suas escolhas, inclusive as gastronômicas e etílicas?

Por mais que fizesse a defesa de senhor Coisinho, impossível não me sensibilizar com o olhar perdido de Jeferson na sua difícil e, às vezes, impossível missão de cuidar do seu pai idoso, inclusive por ser sua obrigação legal, evitando os transtornos que a teimosia do seu protegido poderão causar, capazes até de ultrapassar o limite do mero aborrecimento para desaguar em consequências complicadas. .

Senti a angústia de Jeferson no ofício de ser filho cortar na minha própria carne.


E como não sentiria se conheço exatamente o quanto é difícil achar a medida justa quando os papéis se invertem e somos nós quem precisamos cuidar dos nossos pais?

Sr. Coisinho todo animado, disse à atendente: - Vou querer outra! - referindo-se à cerveja.

Jeferson surtou e talvez lembrando de quando a criança rebelde era ele e das atitudes que obrigou senhor Coisinho a tomar, apelou e dramatizou: - Aproveite meu pai e peça uma ambulância também porque se o senhor tomar outra cerveja, infarto aqui mesmo e o senhor vai ter que resolver!

- Calma meu filho! Não precisa morrer não que não vou beber mais.

E senhor Coisinho rendido pelo mesmo medo de perder nossos pais que sentimos quando somos criança, desistiu de beber a saideira.

Saí da Cafeteria como se tivesse ouvindo a música de Renato Russo tocando para mim e para Jeferson enquanto filhos que somos: "- São crianças como você. E o que você vai ser quando você crescer?"

Claudia Lacerda

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