
Por indicação de uma amiga, iniciei um tratamento de beleza.
Era algo um tanto quanto psicodélico, primeiro porque feito a noite evitando contato com raios solares, depois porque o rosto era coberto com um creme verde limão, acho que com ácidos, contornando olhos, boca e nariz com uma espessa camada de Hipoglós, para retirá-los somente na manhã seguinte.
Tracei um planejamento estratégico, de forma a não ser vista por nenhum vizinho ao chegar no prédio, aguardando dentro do carro na garagem até cessar todo movimento e poder subir 09 andares de escada, sem intercorrências.
Na segunda e última vez em que fiz o procedimento (eram um total de 10), fui direto do trabalho para clínica de estética de lá saindo, por volta das 20 horas, vestida em um terninho (calça e blazer) marrom charuto, cara alviverde e cabelos presos por uma borracha bem no alto da cabeça.
Cai na armadilha da minha soberba, acreditando ter controle sobre tudo e também, inimiga de infância da matemática que sou, esqueci de calcular o risco da operação.
Assim, quando retornei a casa, o inesperado fez uma surpresinha e sofri um acidente de trânsito, sem danos pessoais, mas tomei um susto tão grande que custei a entender ter escapado com vida. Parei para acertar o contratempo com o condutor do outro veículo.
A bateria do celular descarregou e os agentes de tráfego estavam em greve, assim precisei comparecer na sede do Órgão de Trânsito para os procedimentos burocráticos.
Lá chegando, não fui destratada, admito, porém estranhei a maneira como as pessoas me atenderam ou sejam além de inertes, espantadas com risadinhas, cochichos e sei lá mais o que.
Distraída de nascença, sequer me dei conta da gravidade do que se passava naquele recinto, rodei a baiana, pedi para falar com o chefe.
Daí me levaram até um homem sentado em frente a uma grande janela de vidro onde enxerguei uma criatura esverdeada e absolutamente sem noção, no caso EU, EU , EUZINHA.
Pois não senhora , em que posso lhe ajudar? - perguntou o chefe.
Em nada! - respondi e sai correndo!
Joguei para cima o tratamento, o planejamento estratégico, o terno marrom, a matemática, e o controle remoto.
De cara lavada, até hoje, dou muita risada de mim mesma.
Agora, o mais trágico de tudo foi quando cheguei em casa, com todos meus chakras desequilibrados, a beleza sequestrada, vexame público sacramentado e meu marido, ás gargalhadas, perguntou:
- Mulher! Você estava aonde assim, vestida de Shereck?
Claudia Lacerda
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