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As massagistas



De pés descalços na areia quente ou sentadinhas nas calçadas das ruas de Koh Samui elas sorriem quando você passa e, gentilmente, oferecem “foot massage!”, “thai massage!”.


São mulheres pequeninas, geralmente de cabelos longos e olhar doce. A dureza do trabalho e do sol forte deixam marcas visíveis em suas peles desgastadas e enrugadas antes do tempo. Os lugares onde trabalham são extremamente simples: pequenos espaços de paredes coloridas e sem adornos, providos de poltronas e muitos ventiladores, que ajudam a dissipar os mosquitos e o calor. 


Observando-as com atenção, a sensação que se tem é que elas vivem em um tempo distinto, onde a pressa não existe e a urgência não faz parte do vocabulário. Grande parte do seu ofício é sentar e esperar: esperar que um turista passe e decida entrar; esperar o dia passar; esperar o sol se pôr; esperar a hora de fechar. Definitivamente, essas mulheres têm o perfeito domínio da arte da espera. 


A humildade e dedicação com que fazem o trabalho toca profundamente o coração. Sua resignação e paz de espírito chegam, por vezes, a incomodar. Principalmente aqueles que, como eu, já se acostumaram com a conviver com prestadores de serviço embrutecidos pela dureza da vida na cidade grande, o alto custo de vida e a sensação de que nunca se está fazendo o suficiente. Pessoas que acordam todos os dias a dever para vida e são constantemente convidados a dar a ela muito mais do que se tem. 


Durante minha viagem ao sudeste asiático colecionei inúmeras massagens incríveis e extremamente prazerosas. Da mesma forma que colecionei sensações contraditórias que elas, volta e meia, me despertavam. As mãos daquelas mulheres, ainda que pequenas e de aparência frágil, são fortes e hábeis, capazes de oferecer minutos de puro deleite e relaxamento, ainda mais para amantes de massagem, como eu. Enquanto trabalham, elas parecem se transformar em gigantes capazes de manipular os corpos bem mais volumosos que o delas com impressionante destreza e precisão. 


É nítido que sua sabedoria vai muito além do que se é possível escrever em livros técnicos, mas sim algo que faz parte delas desde sempre, provavelmente algo transmitido de geração em geração.


O desconforto que mencionei antes, vem do fato de que eu nunca sabia exatamente o que sentir por aquelas mulheres. Caladas e resignadas elas pareciam estar acima de mim. Não com arrogância. Muito pelo contrário. Com a paz e resiliência que conseguiam irradiar com sua presença, sem sequer terem que emitir uma só palavra. Com seu sorriso. Com sua atitude servil e pacífica. Com sua postura de não questionamento e completa aceitação. Com sua presença e entrega, enquanto minha mente conturbada passeava pelo mundo afora, ia e voltada no passado e futuro quinhentas vezes e tinha uma extrema dificuldade de simplesmente estar lá e se entregar. À vida, ao prazer, ao agora. Como elas conseguiam fazer tão bem.


Muitas vezes tive vontade de conversar com elas. Queria saber como eram suas vidas. Qual eram seus sonhos? O que lhes entristecia? O que lhes dava prazer? Como tinha sido sua infância? Eram casadas, tinham filhos? O que esperavam do futuro, da vida, da morte, da eternidade? Queria aprender com elas. Queria beber da sabedoria delas. Queria poder entrar no mundo delas e conseguir a chave para tamanha resiliência e paz. 


Talvez, porém, o aspecto que mais me tocou entre todos esses que aqui citei foi observar que essas mulheres nunca estavam sozinhas. Apesar do calor, da constante espera e da dureza das pequenas cadeirinhas que passavam suas horas trabalhando, elas faziam parte de uma comunidade. Estavam sempre cercadas de outras mulheres, semelhantes a elas, capazes de oferecer apoio e pertencimento. Capazes de oferecer escuta e conforto. A união silenciosa e invisível daquelas mulheres fazia minha solidão ocidental – por alguns considerada mais civilizada, sofisticada, educada - gritar de dor e desespero.


Porque, de verdade, eu nunca experimentara a cumplicidade e camaradagem que vi entre aquelas mulheres. Certa vez, as vi trocando de lugar, de forma discreta e imperceptível, para que uma delas pudesse resolver um assunto de família inesperado. Sim, elas trocaram de lugar sem que o cliente relaxado pudesse sequer perceber. Começou sua massagem com uma e terminou com outra, sem nem mesmo se dar conta disso. Essas mulheres eram mesmo mágicas e extremamente sábias.  E não se trata aqui de um olhar poético sobre a simplicidade e a pobreza. Mas sim um sentimento visceral de que algo de muito certo aquelas mulheres foram capazes de criar para si mesmas.


Algo que eu, dentro da sociedade ocidental em que vivo, provavelmente, nunca irei encontrar junto das minhas iguais. Algo que talvez pudesse fazer muita diferença na minha vida e na vida de muitas mulheres que vivem por aí vidas privilegiadas, mas extremamente solitárias e carentes desse sentimento tão importante que é o pertencer...

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