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E se o mundo fosse um tapete de yoga



Se seu tapete de ioga falasse, o que ele diria sobre você?


Não sou uma grande praticante de ioga e entendo pouquíssimo sobre os diferentes tipos dessa prática milenar. Mas aqui na cidade onde moro, tem um estúdio que eu adoro frequentar. Ele fica num espaço amplo e envidraçado, cheio de plantas e com uma vista linda para as montanhas. Os melhores dias são aqueles em que o sol está brilhando e seus raios matinais banham grande parte da sala. Sempre escolho os lugares onde ele está presente assim consigo desfrutar da sua energia e calor enquanto estou praticando.


É interessante porque, como não me considero uma boa praticante, vou para as aulas de ioga absolutamente relaxada e sempre aberta a tentar e aprender. Dou risada quando me desequilibro ou quando vejo algumas pessoas experientes fazerem com primazia posições que eu jamais haverei de conseguir – do tipo aquelas de virar de cabeça para baixo ou se apoiar com pernas de sapo só com as duas mãos no chão. O que me faz bem nessas aulas de ioga não é a atividade física em si, mas a forma com que eu me permito estar nela: sem expectativas e cobranças, numa postura de total aceitação. Vou fazer o que dá, vou rir quando cair ou não conseguir, vou aceitar o que meu corpo consegue fazer naquele dia. Uma postura totalmente diferente daquela que eu tenho diante do Pilates, que é uma prática que me dedico há um tempo. Nas aulas de Pilates não tem essa de relaxar, de rir, de ficar de boa se precisar parar no meio e não conseguir. Lá eu vou com tudo! Quero fazer bonito, direito, formato perfeito, ter as pernas esticadinhas, fazer os movimentos ritmados e dar conta de todos os exercícios propostos pela instrutora. Entro nas aulas com sangue nos olhos e fico extremamente frustrada nos dias que percebo meu corpo mais cansado, menos flexível e coordenado. Ninguém vê, mas as aulas de Pilates sou eu eternamente brigando com meu corpo e dizendo: “você sabe fazer isso, não vem com onda, deixa de preguiça, seu fracote!” Me irrito quando me atrapalho com as molas e atraso o início de um exercício. Tento fazer as transições de forma rápida e eficiente e ainda de um jeito gracioso, lembrando da minha instrutora favorita que sempre fala que as transições devem fluir com charme e elegância.  


Já na ioga vou sem expectativas, aceitando o que meu corpo pode me dar naquele dia. Uma perspectiva mais saudável, mais real do que aquela que tenho no Pilates. Confesso que ando me perguntando qual das práticas seria a melhor para mim e meu corpo? Aquela onde eu ofereço o que tenho ou aquela que eu estou sempre buscando mais?


Se meu tapete de ioga falasse, ele diria: “Está aí tá relax, gosta de sentir o sol sobre a pele, aprender e experimentar. Ri de si mesma quando perde o equilíbrio ou só consegue fazer a posição mais simples proposta pela instrutora. Observa e respeita os limites do seu corpo. E adora quando a aula termina e a professora da aquele tempinho para todo mundo fechar os olhos e meditar. Ou, simplesmente, descansar”. 


Já se meu aparelho de Pilates falasse, a descrição seria bem diferente. “Ela chega ansiosa e quer logo que a aula comece. Não quer perder tempo nem conversar com ninguém. Faz até aqueles exercícios que sabe que não são bons para sua coluna, só para provar para si mesma que consegue. Está sempre tentando ir além dos seus limites, fazer uma repetição a mais. Se irrita quando sente que a aula está menos puxada e que não teve naquele dia o melhor treino do mundo e se impacienta se a professora faz pausas longas entre os exercícios. Quer ação, dor, superação. Tem dias que tem vontade de gritar, sair dali e nunca mais voltar. Como se aquela pratica exigisse dela algo que, naquele momento, ela não tem para dar. Mas segue firme e determinada, sem parar e se perguntar se aquilo está, de fato, lhe fazendo bem”. 


Na minha vida a postura mais natural para mim é a que tenho durante as aulas de Pilates. No entanto, gosto mais de mim praticando ioga do que Pilates e ando pensando se não deveria adotar mais vezes e em mais atividades, a postura que tenho quando vou a essas aulas na frente das montanhas. Uma postura mais respeitosa e mais amorosa comigo mesmo, mais gentil, mais humana.


Entendo que a vida exige muito de cada um de nós e que há que se ter um tanto de garra e determinação para se chegar onde se quer. Mas sempre é importante lembrar – como diz minha sábia professora – que a posição de criança (ou posição de descanso) está sempre disponível a qualquer momento e é uma escolha tão válida como todas as outras... 

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