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Who is that girl?



“Pelo que você gostaria de ser lembrada?” perguntou o jornalista. Ela, sem hesitar, respondeu: “Por ter sido mãe”.

 

Não sei precisar há quantos anos atrás – mais de vinte com toda certeza - vi essa entrevista com a cantora Madonna. Na época eu não era mãe, mas a resposta dela ficou na minha cabeça por anos a fio.


Não conseguia compreender como uma pessoa tão famosa como Madonna, que fez e conquistou tanto, podia querer ser lembrada apenas pelo fato de ter sido uma mãe. Me parecia pequeno demais, mundano demais para uma estrela como ela.


Quem diria que, mais de duas décadas depois (ontem, para ser mais precisa) tenho a sorte de ir a um show dela com uma amiga na cidade de Nova Iorque e, para minha surpresa, essa frase volta a se apresentar na minha frente.

 

Como parte da turnê Celebration, Madonna cantou os sucessos antigos e fez uma performance recheada não só de boa música, mas de luzes, dançarinos, telões gigantes e efeitos especiais de cinema.


Um verdadeiro espetáculo para os sentidos!


Em dado momento, uma breve retrospectiva de sua carreira foi projetada nas grandes telas e voltei a ouvir a frase célebre da mesma entrevista que citei acima.

 

Cresci dançando ao som das canções de Madonna - como também outras preciosidades dos anos 80 – mas nunca me considerei uma grande fã dela. Naquele momento, outras bandas com vocalistas atraentes e sensuais acabaram capturando minha atenção. Mas ontem, me tornei uma grande e agradecida fã dela.

 

O show que ela fez não foi fácil de processar. Além da ampla gama de estímulos, uma série de sentimentos foram despertados dentro de mim e, ao contrário do que se poderia pensar, saí dele um tanto nostálgica e profundamente emocionada.

 

Cheguei lá esperando “encontrar” uma estrela, uma diva, uma mulher poderosa que desafiou inúmeros paradigmas e que se tornou uma das mais famosas cantoras da atualidade.


O que eu não esperava era ter encontrado tantas outras coisas além disso! Encontrei uma mulher, um ser humano, uma pessoa de verdade que, com depoimentos profundos e chocantemente sinceros, me inspirou além do que eu podia esperar. O que vi ali não foi somente a retrospectiva de carreira dela como uma cantora mas um testemunho vivo da vida de uma mulher madura que viveu na pele tudo o que outras tantas mulheres no mundo viveram e, mesmo assim, venceu.

 

Obrigada Madonna por ter se permitido ser uma mulher comum ontem aos olhos gulosos e ávidos de todos nós. Foi tão bom descobrir que você é forte, maravilhosa, incrível e também frágil, humana e vulnerável (assim como todas nós).


Com suas palavras, você curou muitas de nós, que, diante da sua presença, beleza e sucesso entraram ali se sentindo pequenas e invisíveis em suas vidas banais como mães-esposas-mulheres-trabalhadoras e saíram inspiradas, valorizadas, agradecidas e compreendidas.


Você validou e nos autorizou a ser quem somos: frágeis, corajosas, grandes, pequenas, vulneráveis e gigantes tudo ao mesmo tempo e agora. Porque se Madonna é “somente uma mulher, todas nós mulheres temos o poder de nos tornar uma Madonna e realizar nossos sonhos!


Se Madonna pode chorar no show, todas nós podemos chorar também, seja no trabalho, no supermercado, em casa ou na frente dos filhos. Se Madonna teve medo de morrer e precisou de alguém que segurasse na sua mão para lhe confortar e dizer que tudo vai dar certo*, nós também podemos pedir ajuda e aceitar o fato de que não precisamos nos isolar e tentar dar conta de tudo sozinhas.


Se você, que conquistou o mundo, ficou petrificada diante da fragilidade da vida, nós também podemos ficar. Se você, que é Madonna, sente que envelhecer é visto como um pecado – como vi escrito no telão do show- todas nós podemos respirar aliviadas e fazer as pazes com os anos que nos tiraram a aparência jovem, mas que também tanto nos acrescentaram. Se o seu legado mais importante foi ter sido mãe, nós podemos começar a sentir menos culpadas e apequenadas por termos tomado tantas decisões difíceis durante a vida para podermos desempenhar esse papel da melhor forma possível.

 

E, finalmente, quando você diz que seu ato de maior rebeldia foi “continuar presente”, independente da sua idade e de tudo que falaram sobre e para você, nós também podemos continuar. Apesar da idade, dos óculos, das frustrações, dos hormônios, da flacidez, das rugas, dificuldades, calores e esquecimentos.


Você nos mostrou que o mundo masculino pode ter nos roubado muito, mas não roubou aquilo que temos de mais precioso: nossas almas! E, como você nos mostrou nesta noite, quem tem alma pode chegar em qualquer lugar.

 

 

 *história que Madonna compartilhou com seu público durante o concerto

 

 Isabel Coutinho

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